quarta-feira, 22 de abril de 2015

À SOMBRA DA MORTE - RAIMUNDO CORREA


imagem extraída de: equipecrisalidas.blogspot.com


RESUMO:

Este ensaio tem o objetivo de analisar o poema  “À sombra da morte” de Raimundo Correa, examinando mais especificamente o tema como objeto (A morte) o pessimismo, qualidade marcante no autor e que o difere dos demais autores parnasianos da época. Explanação sobre o parnasianismo, suas características gerais e o parnasianismo no Brasil.

INTRODUÇÃO:

A temática de Raimundo Correa, como todo poeta parnasiano, se concentrava na exaltação das formas estruturais, na composição do poema, na contemplação da natureza, na perfeição dos objetos, na métrica rígida, enfocava também um forte pessimismo marcado pela desilusão dos sonhos que podem não ser realizados, o pessimismo chega a ser sombrio.

DESENVOLVIMENTO: 

1- VIDA DO AUTOR

Raimundo Correia (R. da Mota de Azevedo C.), magistrado, professor, diplomata e poeta, nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís, ancorado na baía de Mogúncia, MA, e faleceu em Paris, França, em 13 de setembro de 1911.
Foram seus pais o Desembargador José Mota de Azevedo Correia, descendente dos duques de Caminha, e Maria Clara Vieira da Silva. Vindo a família para a Corte, o pequeno Raimundo foi matriculado no Internato do Colégio Nacional, hoje Pedro II, onde concluiu os estudos preparatórios em 1876. No ano seguinte, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Ali encontrou um grupo de rapazes entre os quais estavam Raul Pompéia, Teófilo Dias, Eduardo Prado, Afonso Celso, Augusto de Lima, Valentim Magalhães, Fontoura Xavier e Silva Jardim, todos destinados a ser grandes figuras das letras, do jornalismo e da política.
Em São Paulo, no tempo de estudante, colaborou em jornais e revistas. Estreou na literatura em 1879, com o volume de poesias Primeiros sonhos. Em 1883, publicou as Sinfonias, onde se encontra um dos mais conhecidos sonetos da língua portuguesa, “As pombas”. Este poema valeu a Raimundo Correia o epíteto de “o Poeta das pombas”, que ele, em vida, tanto detestou. Recém-formado, veio para o Rio de Janeiro, sendo logo nomeado promotor de justiça de São João da Barra e, em fins de 1884, era juiz municipal e de órfãos e ausentes em Vassouras. Em Vassouras, começou a publicar poesias e páginas de prosa no jornal O Vassourense, do poeta, humanista e músico Lucindo Filho, no qual colaboravam nomes ilustres: Olavo Bilac, Coelho Neto, Alberto de Oliveira, Lúcio de Mendonça, Valentim Magalhães, Luís Murat, e outros. 

imagem extraída de: www.levyleiloeiro.com.br


No primeiro número da Revista que ali se publicava, apareceu seu trabalho “As antiguidades romanas”. Em 97, no governo de Prudente de Morais, foi nomeado segundo secretário da Legação do Brasil em Portugal. Ali edita suas Poesias, em quatro edições sucessivas e aumentadas, com prefácio do escritor português D. João da Câmara. Por decreto do governo, suprimiu-se o cargo de segundo-secretário, e o poeta voltou a ser juiz de direito. Em 1899, residindo em Niterói, era diretor e professor no Ginásio Fluminense de Petrópolis.
Em 1900, voltou para o Rio de Janeiro, como juiz de vara cível, cargo em que permaneceu até 1911. Por motivos de saúde, partiu para Paris em busca de tratamento. Ali veio a falecer. Seus restos mortais ficaram em Paris até 1920. Naquele ano, juntamente com os do poeta Guimarães Passos também falecido na capital francesa, para onde fora à procura de saúde foram transladados para o Brasil, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, e depositados, em 28 de dezembro de 1920, no cemitério de São Francisco Xavier.
Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na poesia brasileira. Seu livro de estréia, Primeiros sonhos (1879) insere-se ainda no Romantismo. Já em Sinfonias (1883) nota-se o feitio novo que seria definitivo em sua obra o Parnasianismo. Segundo os cânones dessa escola, que estabelecem uma estética de rigor formal, ele foi um dos mais perfeitos poetas da língua portuguesa, formando com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac a famosa trindade parnasiana. Além de poesia, deixou obras de crítica, ensaio e crônicas

À SOMBRA DA MORTE

Nas vascas da agonia um moço chora:
 “ — Com que sarcasmo, ó natureza, estendes 
Profusa luz, em torno a mim, agora!
Amor, porque me enleias em teus braços?
Porque, se a vida é curta, a ela me prendes
Esta alma, ainda, com tão fortes laços?!”
Cheio de anos e cãs, findo o combate
Da vida quase finda,
Também um velho em ânsias se debate
— Ó céus! — depreca num soluço rouco —
Lutei assaz; deixai-me, vivo ainda,
Antes da morte, repousar um pouco!”
Um a luta começa,
Outro remata a luta... Certamente,
Tanto a velhice trêmula, como essa
Fogosa juventude árdua e insofrida,
O que deplora e sente,
Não é morrer, porém... deixar a Vida.
E a Morte, ao pé do leito, assim lhes falia...
(Sua voz sepulcral, ninguém a escuta;
Podem só moribundos escutá-la.)
Falia a cada um: — “Não temas tu, em meio
A luta, ou pós a luta,
A enorme paz do meu enorme seio!
Paixão, Remorso, ou Sonho, ou Pesadelo,
Não sou. Não sou o espectro, que, ominoso,
Toca o insone Macbet com mãos de gelo;
Não sou o espectro lôbrego e sangrento,
Que, h noite, assombra o olhar do criminoso,
E vela à cabeceira do avarento!
 “Nem a visão, que, entre jasmins e rosas,
Em níveo toro, ambígua, aérea e vaga,
Inflama as almas noivas e amorosas-;
E, entre os mil beijos da Volúpia, gera
Um martírio — no odor, que as embriaga,
Um tormento — no espinho, que as lacera!
“O coração, que espera o bem, e cansa
De esperá-lo, meu hálito adormece-o,
E, com ele, su’última esperança;
Quer a luta comeces, quer a acabes,
 Ancião, ou jovem, Sócrates, ou néscio,
Tu, que és amante, ou tu, que amar não sabes,
“Mortal, enfim; no encalço da ventura,
O basilisco fabuloso, a arcana
 Pedra filosofal busca, procura!
 Mas não tentes achar, da mesma sorte,
O homem, que, avesso à minha lei tirana,
 Conseguiu repousar antes da morte!”

ESTRUTURA EXTERNA
Com relação à estrofe, à métrica e as rimas, de acordo com a poesia, oito estrofes de seis versos cada, (sextilhas), decassílabas  e misturadas. O autor segue rigorosamente às formas do parnasianismo. Uma linguagem rebuscada. A poesia já é bela por si própria, aqui é valorizado apenas a estética “ A arte pela arte”.

ESTRUTURA INTERNA
Uma das características que difere Raimundo Correa dos demais autores é o pessimismo exagerado em suas poesias. Um exemplo disso está na estrofe 1:  “porque, se a vida é curta, a ela  me prendes  esta alma ainda, com tão fortes laços?   Já que a morte o levará não precisa mostrar “Profusa luz” deveria mostrar logo a escuridão.  A poesia mostra a presença marcante da morte, pode ser velho ou jovem, ter lutado muito ou estar em luta (estrofe 2); A morte vai chegar tanto para quem chegou na velhice, como para que é jovem também, ela não tem hora marcada para sua chegada (estrofe 3); estrofes 4,5,6 e 7 a morte marca sua presença, que não é fúnebre, escura, que assusta é apenas a morte e que ninguém escapa dela “Ancião, ou jovem, Sócrates, ou néscio, Tu, que és amante, ou tu, que amar não sabes”. A beleza da poesia Parnasiana é essa, não remete à passado, não conta histórias e nem vive um realismo de crítica social e sim trata aqui a morte como um objeto.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Poesia é arte, deve haver em todos os estilos e épocas: linguagens poéticas, rebuscadas ou populares, sentimentais, objetivas, realistas,  falem de nacionalismo, natureza,  falem do povo ou da pátria ou de seus mais íntimos sentimentos,  falem de ideais ou tenha apenas estética, formas a serem apreciadas todas enlevam e nos trazem ao deleite.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MONTEIRO, Clóvis - Esboços de história literária, Pg. 255 - Livraria Acadêmica - Rio de Janeiro  1961.
MENDES, Iba - Poeteiro, Pg 33-34 -  Poeteiro editor digital, São Paulo, 2014
 (PDF - 
Academia Brasileira de Letras - www.academia.org.br -
 SITE: projetolivre.com/aleluias)
 CORREA, Raimundo - Aleluias , Pg 32-  poema À Sombra da Morte -1891.
                                                                                 



Um comentário:

  1. A fotografia que dá início ao artigo é do também maranhense Aluísio Azevedo.

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